ANÁLISE DA OBRA AS
DORES DA SECA, DE TEREZINHA TEIXEIRA SANTOS
FICHA
TÉCNICA
TÍTULO:
AS DORES DA SECA
AUTORA:
TEREZINHA TEIXEIRA SANTOS
EDIÇÃO:
1ª E 2ª
APRECIAÇÃO
LITERÁRIA
O livro “As Dores da Seca” descreve, com
riqueza de detalhes, a saga de uma família numerosa, vivendo as dificuldades
causadas pela seca que persistiu no sertão baiano, no ano de 1939.
O nascimento de uma criança, vinda de um
triste caso de amor escondido, deu engrenagem ao enredo discorrido numa
localidade com absoluta falta de chuva.
Romanceado por vários episódios, envolve a
atenção do leitor, quando fala: da morte do jeguinho de estimação, do caboclo
que levou o pilão de Filó e da saída do filho mais velho do seio da família, em
busca de melhores condições de vida. O livro torna-se muito interessante por
mostrar as dificuldades da convivência coma
estiagem, entremeado pela esperança, força e fé do homem sertanejo.
A autora, de maneira inteligente e
otimista, estruturou o romance mostrando muitas nuances, hábitos e costumes do
sertanejo; utilizando inclusive o linguajar típico dos habitantes dos rincões do sertão. Usando o personagem
Severino, faz poesia e nos leva às lágrimas quando reza várias orações pedindo
chuva.
De leitura dinâmica, interessante e
envolvente, é uma recomendação àqueles que apreciam as histórias regionais, os
costumes do povo simples e, sobretudo, para os que buscam conhecer as
dificuldades que passaram as famílias que conviveram com a seca.
Perpassando a história, a autora conclui o
romance como os grandes acontecimentos históricos, enaltecendo os valores da
amizade, da perseverança, da fé, da esperança e do amor.
Maria Doroteia Teixeira Santos Reis
A obra “ As Dores da Seca” narra a saga da
família de Severino e Filó na pior seca já enfrentada pelo sertão baiano, em
1939.
Severino, homem forte, trabalhador, cheio
de fé, não teme a lida nem se acovarda diante do longo período de estiagem.
Assim como o mandacaru, resiste ao sol inclemente, pedindo em suas orações a
chuva e forças para permanecer em seu chão.
Ao lado de Filó e seus filhos Juquinha,
Mané, Rosinha, Zeca, Joaninha, Chiquinho e Bastião, Severino suporta a fome, a
miséria, a perda de seus animais estimados: jeguinho Pulu, a cachorra Traíra, a
vaquinha Pintada, que ficara no Pé da Serra, e saída de seu filho Mané, de
apenas 12 anos, para tentar a vida na cidade grande.
Mesmo depois de tanto sofrimento, Severino
resiste à ideia de deixar o sertão e clama sempre pela chuva, pelo retorno do
verde no pasto, pela fartura, pela bonança. Mas, a chuva não vem e Severino e
sua família são obrigados a partir, a eles se junta Mãe Maria, avó de Filó.
Mulher forte, determinada, que não se deixa abater pelas agruras vividas.
Saem em busca de melhores condições,
atravessando o sertão baiano e carregando consigo a fé e esperança da ter
chuva.
Nessa jornada, a família de retirantes
conta com o apoio e a solidariedade de amigos, vizinhos e companheiros de
infortúnios. Ao chegar a Duas Barras, reencontra seu filho Mané e também o pai
de Filó, Tonico. A família, mais uma vez reunida, comemora e faz planos,
reacendendo a esperança de viver dias melhores.
Eis que cai a chuva e o sertão voltará a
ficar verde. O cheiro de terra molhada, a plantação brotando... Severino e sua
família não mais precisam fugir da seca e retornam ao Pé da Serra.
A leitura de “As Dores da Seca” nos
transporta ao universo regionalista de Rachel de Queiroz, Euclides da Cunha,
Graciliano Ramos, ao relatar com detalhes os tormentos suportados pelo
sertanejo nos longos e penosos períodos de estiagem.
A moral e os costumes da região, as
tradições, as crenças e a religiosidade, elemento indissociável do sertanejo,
as rezas, as cantorias, as orações consolidam o universo místico do homem do
sertão, acentuando, a cada aflição vivida, que a fé é que o mantém de pé.
Hévila Maynart
ELEMENTOS DA NARRATIVA
Personagens:
Severino: homem forte, determinado,
trabalhador, crente, casado com Filó e pai das crianças Juquinha, Mané, Rosinha, Zeca, Chiquinho,
Joaninha e Bastião. Sofre com a seca, mas reluta em deixar seu torrão. Acredita
que Deus iria olhar pro seu sertão.
Filó: fruto de um amor escondido, é criada
pela avó Mãe Maria. É uma mulher corajosa e resignada. Aguenta as dores da seca
juntamente com Severino e os filhos.
Mãe Maria: mulata forte de físico e de mente,
acreditava na sorte, amava a vida e era devota de Nossa Senhora do Parto. Não
havia nada que a abatesse.
Caboclo: rezador, leva consigo o pilão de
Filó.
Mané: filho mais velho de Severino e Filó,
por causa da seca, deixa sua família e parte para a cidade grande em busca de
melhores condições. Será o portador de boas novas: é ele que trará seu avô
Tonico e a esperança de dias melhores para sua família.
Tonico: pai de Filó. Quando jovem se
enamora por Margarida e, por algum tempo, vive um romance escondido com
Margarida. Após desvirgina-la, deixa o povoado por medo de Bastião, pai da
moça. Só reaparece nos capítulos finais, através de Mané.
Rosinha: filha de Severino e Filó, é que
ajuda a mãe nas lidas diárias.
Espaço: O sertão baiano, região do Pé de
Serra, onde vive a família de Severino e Filó. Há também em menor escala a
apresentação do cenário da cidade de São Paulo, para onde foi o menino Mané.
Tempo: A narrativa é centrada na seca de
1939, no sertão baiano. Há o predomínio do tempo cronológico, com passagens de
tempo psicológico, em forma de feedback.
Narrador: observador, com foco narrativo de
3ª pessoa. O narrador é onisciente, mesmo estando fora da história, penetra no
interior das personagens, em suas intimidades como se fosse Deus.
O uso do discurso indireto livre apresenta
o narrador que funde-se ao personagem,
dando a impressão de que os dois falam juntos. Isto faz com que o narrador
penetre na vida do personagem, no seu íntimo, adivinhando-lhe os anseios e
dúvidas.
Enredo: A família de Severino e Filó, no Pé
da Serra, sofrem com a longa seca. Depois de perder seus animais de estimação,
veem seu filho Mané partir para a cidade grande em busca de condições melhores.
Mané, na viagem para São Paulo, é acolhido
pela família de seu Antônio e d. Amélia. Lá em São Paulo, conhece seu avô
Tonico, que decide voltar ao sertão juntamente com o neto para conhecer Filó.
Nesse mesmo tempo, após meses resistindo
contra o sol impiedoso, Severino e sua família decidem deixar o sertão e partem
para a cidade numa viagem de sofrimento e dor. Ao chegar a Duas Barras,
reencontra o filho Mané e conhece Tonico. Chove e a família não segue
viagem, retornando ao povoado de Pé da
Serra.
Linguagem: O
sucesso do livro está atrelado à simplicidade da linguagem (a mais difícil das
virtudes literárias!). Não há exibicionismo da autora no uso de palavreado
erudito.
Sua
linguagem é natural, direta, coloquial, simples, sóbria, condicionada ao
assunto e à região, própria da linguagem moderna brasileira.
Em
As Dores da Seca, Terezinha Teixeira usa uma linguagem
regionalista sem afetação,
sem pretensão literária e sem vínculo obrigatório a um falar específico
(modismo comum na tendência regionalista).
A
sobriedade da construção, a nitidez das formas, a emoção sem grandiloquência,
são recursos perceptíveis em todo o livro.
Análise por capítulo
Capítulo 1
“O sertão sofre com a seca que traz a
fome.”
O capítulo 1 apresenta as personagens Severino e Filó, descreve o ambiente onde
ocorrem as ações: povoado de Pé da Serra e os costumes do homem do sertão.
Utilizando uma linguagem simples, de fácil
entendimento, nas falas de suas personagens percebe-se o regionalismo.
Nesse capítulo também é narrada a situação
em que Filó perde seu pilão para o caboclo que veio curar Juquinha.
Capítulo 2
“A seca expulsa o sertanejo de seu torrão
natal.”
No capítulo2, Mané vê-se obrigado a sair
sozinho para a cidade grande em busca de melhores condições. Enfrenta
corajosamente a penosa viagem. Conhece a família de Sr. Antônio e D. Amélia,
por quem é acolhido, e consegue chegar a São Paulo para trabalhar e juntar
dinheiro para buscar a família.
É no capítulo 2 que se apresenta o
mandacaru como símbolo da resistência do sertanejo.
Capítulo 3
“O sertanejo é acima de tudo um forte.”
O capítulo 3 inicia com a apresentação de
Mãe Maria e a história de Filó. Em forma de feedback temos conhecimento sobre
os pais de Filó e a história de amor escondido. Ao falar da rivalidade entre a
família de Margarida e a família de Tonico, percebe-se a influência shakespeariana
de Romeu e Julieta.
O capítulo se encerra numa antítese vida e morte. O nascimento de Filó e
a morte de Margarida.
Capítulo 4
“O céu pontuado por nuvens brancas é sinal
de que a chuva vai demorar.”
Esse capítulo narra a viagem de Mané, o
encontro com a família que o acolhe e a chegada a São Paulo.
Capítulo 5
“Em terras paulistanas o retirante chora
sua saudade nas cordas da viola.”
O capítulo inicia reforçando a fé e a
religiosidade de Severino. Só pela fé e através da fé ele resistia às asperezas
do sertão. É aí que conhecemos a história de Marcolino e Zefa e o triste fim de
seu filhinho Joãozinho.
Mais uma vez, Severino mostra-se temeroso
em deixar o seu pedaço de terra e ir para a cidade grande, lembrando do
sofrimento dos compadres.
Capítulo 6
“A caatinga queimada é sinal de que a seca
é brava.”
A seca persiste e Severino já se mostra que
não tem mais esperança de ver a chuva cair. Sofre com o padecimento de Filó e
seus filhos, mas nem tudo é tristeza. Chegam boas notícias de São Paulo,
Severino e Filó recebem uma carta de Mané.
Capítulo 7
“A água desaparece, o mato seca, a fome
traz a morte, só o sertanejo permanece forte.”
Mês de junho, sofrimento, tristeza. A seca
castigava no Pé da Serra. Já em São Paulo, chuva em abundância. Mané e seus
colegas, aos sábados, iam ao boteco do Baiano. É lá que ele conhece o violeiro
Tião e sua história, “a cruel traição”. A saudade aperta o peito de Mané e ele
também faz sua súplica: “Meu Deus, tem piedade do sertão.”
Capítulo 8
A seca continua. Parece que tudo vai se
acabar. E o sertanejo fala forte: “-Nada me tira do meu lugar”.
Agosto chega, trazendo a esperança que
alimenta o sertanejo. Filó fraqueja e pede a Severino para saírem daquele
lugar, não quer ver seus filhos morrerem de fome. Severino, mais uma vez, dando
mostra de sua fé, reza o “Pai Nosso do Sertão.”
Nasce
Bastião, o mais novo filho de Severino e Filó.
Capítulo 9
“Em outras plagas o retirante mostra força,
coragem, trabalho e saudades de sua terra.”
Agosto se foi e chega setembro, nada de chuva.
A falta de chuva fazia desaparecer os lindos prenúncios da primavera.
Mãe Maria mostrava-se mais forte e animada
após a chegada de Bastião.
Capítulo 10
“Por onde passava a família de Severino,
ficavam as marcas das dores da seca.”
Finda dezembro e nem sinal de chuva. A
situação no povoado do Pé da Serra é trágica. As dores da seca impõem a
Severino sua retirada.
Rezas, penitências, procissão, nada
adiantava. A chuva teimava em não chegar, aumentando o sofrimento dessa gente.
Severino decide sair de seu torrão e
começam os preparativos para a viagem.
Capítulo 11
“Com lágrimas o sertanejo molha o chão
rachado pela seca.”
Mané descobre seu avô Tonico e a esperança
de rever sua família, de tirá-la da dor da seca torna-se concreta para o
menino. Tonico e Mané se preparam para retornar ao Pé da Serra.
Capítulo 12
“Nada desanima o coração forte do homem das
catingas.”
Nesse capítulo é narrada a partida e a
viagem da família de Severino. Tristeza, dor, saudade, desolação e aflições
marcam a jornada desses retirantes, últimos a deixar o povoado do Pé da Serra.
Capítulo 13
“O sertanejo só tem alegria quando a chuva
molha o seu chão.”
Desfecho. Após noites atormentadas, medo,
dor, aflição, a família de Severino chega a Duas Barras. Mané e Tonico
reencontram a família e a esperança brilha mais uma vez. Para alegria de Filó,
Mané lhe traz seu pilão, ela conhece seu pai Tonico.
Relâmpago, trovões, chuva. A chuva caía em
Duas Barras, Severino quer voltar para o Pé da Serra. Tonico e Mané ajudam a
família na viagem de retorno ao povoado do Pé da Serra.